Os dados referentes a 2015 ainda estão sendo processados, diz Miguel Bahiense, presidente do Plastivida e do Instituto do PVC.
Ele crê, porém, na continuidade da expansão dos índices mesmo no decorrer deste complicado ano de 2016. “A tendência é de crescimento contínuo da reciclagem”, avalia.
Bahiense – Plastivida
Bahiense lembra já ter sido assinado, no final do ano passado, o acordo para implementar o sistema de logística reversa das embalagens – uma exigência da PNRS – entre o governo federal e a Coalizão Empresarial, que integra 23 entidades representativas setoriais, entre elas a Plastivida, a Abibet e a Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico).
Por esse acordo, até 2018, deve ser reduzida em 22% a quantidade destinada a aterros sanitários da fração seca dos resíduos pós-consumo, ou seja, dos materiais recicláveis, incluindo as embalagens (independentemente de suas matérias-primas).
“Atingir tal objetivo depende também das ações de outros atores da sociedade, como o poder público, que precisa investir mais em seleta coletiva”, destaca Bahiense.
As dificuldades impostas pela crise econômica à indústria da reciclagem do plástico atingem também os fabricantes dos equipamentos necessários a essa atividade, como é possível perceber nas palavras de Paolo de Filippis, diretor das empresas Wortex e da Amut-Wortex (esta, uma sociedade entre a brasileira Wortex e a italiana Amut).
Rompe-sacos da Amut-Wortex auxilia as operações de reciclagem
“Até o final do ano passado, a demanda vinha se mantendo bem, mas a partir daí houve uma queda brusca”, relata.
“Mas, na metade deste ano, começaram a se delinear perspectivas mais favoráveis, confirmadas na última edição da Interplast”, acrescenta Filippis (referindo-se à feira setorial realizada em Joinville-SC, em agosto).
Antonio Alves, sócio-diretor da By Engenharia, representante no Brasil de marcas como Davis Standard, Gala, Plasmec e Sica, entre outras, e também fabricante sob licença de tecnologia alguns de seus equipamentos, fala de 2016 como ano, de maneira geral, até agora pouco favorável para a venda de equipamentos, porém “menos ruim” no caso daqueles dirigidos principalmente à reciclagem;
Há porém uma particularidade: nesse segmento, cresceu a venda de equipamentos usados.
“No caso dos equipamentos com os quais trabalhamos é difícil encontrar usados disponíveis no mercado, mas por causa da crise algumas empresas de processamento de compostos virgens fecharam, e assim surgiram alguns, que nós compramos, reformamos e vendemos com garantia”, diz Alves.
Também na fabricante de extrusoras Multi-União, as vendas deste ano se concentraram nos recicladores:
Ailton Feliputi – Multi-União
“Vendemos três extrusoras, todas para esse segmento de mercado”, relata Ailton Feliputi, diretor dessa empresa sediada no município paulista de Nova Odessa.
Mas a Multi-União, mesmo nessa conjuntura difícil, não apenas não demitiu nenhum de seus quarenta colaboradores, mas também investiu cerca de R$ 1,2 mihão em novas máquinas para usinagem.
“Estamos nos preparando para quando os negócios se aquecerem novamente e isso já está acontecendo: antes da Interplast o número de consultas aumentou, e na feira confirmaram-se os sinais de melhora”, justifica Feliputi.
Grunewald: FDA autoriza uso de PET reciclado em alimentos
Para Andrés Grunewald, diretor da operação latino-americana da multinacional Gneuss, épocas de crise podem até favorecer aos negócios relacionados à reciclagem, pois estimulam as empresas a buscarem matérias-primais mais baratas, como é o caso do plástico reciclado. “E, para competirem com a baixa dos preços internacionais das resinas poliolefínicas virgens, os grandes recicladores têm investido em equipamentos que reduzem custos, agregam produtividade a seus processos, e permitem produzir resinas com qualidade mais próxima possível à das resinas virgens”, enfatiza.
A Gneuss, diz Grunewald, já instalou mais de 120 unidades de filtração contínua em linhas de PET reciclado no Brasil, onde lidera esse segmento de mercado. Tem presença relevante também no mercado mundial de equipamentos para extrusão de PET, para o qual desenvolveu uma tecnologia de múltiplas roscas denominada MRS, que permite o uso de PET de qualquer origem e elimina a necessidade de secagem e cristalização.
Linha de extrusão MRS da Gneuss gera lâminas para termoformagem
Em todo o mundo, essa tecnologia já opera em mais de sessenta instalações, sendo seis delas aqui no Brasil.
“A tecnologia MRS possui cartas irrestritas de não-objeção do FDA (Food and Drug Administration), que atestam a eliminação completa dos contaminantes de risco potencial à saúde humana, permitindo o contato direto do material reciclado processado até com alimentos”, destaca Grunewald.
O Brasil, diz o profissional da Gneuss, conta com uma indústria de PET reciclado de altíssima qualidade, sendo um dos líderes mundiais nese mercado e precursor de algumas de suas aplicações: é, entre outras coisas, pioneiro na fabricação de fibras bicomponentes de autocrimpagem com até 100% de flocos de garrafas pós-consumo. “Em aplicações semelhantes em outros países, o percentual de PET reciclado raramente ultrapassa 70%”, compara.