Reciclagem: Crise aproxima preços das resinas virgens e recicladas




Teoricamente, economia desaquecida favorece os plásticos reciclados, cujo preço inferior ao das resinas virgens ajudaria a reduzir os custos dos produtos finais transformados.
Além disso, o Brasil dispõe de uma lei específica para a disposição de resíduos sólidos, e as empresas divulgam crescente preocupação com a sustentabilidade, que pressupõe o reaproveitamento de materiais. Mas a conjugação desses vários fatores não afastou os impactos negativos da crise econômica dos últimos anos sobre o mercado nacional de reciclagem de plásticos.
A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) ainda informa dados de 2014, quando o índice nacional de reciclagem de plásticos atingiu 26,7%, com a geração de 615 mil toneladas de resinas. Por sua vez, a reciclagem de PET, informa a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), em 2015 abrangeu 274 mil t, ou 51% do consumo total desse poliéster (desde então esses índices não foram atualizados).



Recentemente, o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) anunciou que projetos das entidades participantes – entre elas, representantes da cadeia do plástico – no final do ano passado haviam incrementado em 29% o nível de reciclagem das embalagens pós-consumo no Brasil, e reduzido em 21,3% o volume depositado em aterros (relativamente a 2012). Esses dados se referem a embalagens feitas com diversos materiais (exceto vidro e aço), porém, de acordo com Victor Bicca, presidente do Cempre, “a indústria do plástico é das que mais vem contribuindo com esses resultados”.
Ao menos nos últimos dois anos, mantiveram-se estáveis os volumes de plásticos reciclados no Brasil, afirma Maurício Jaroski, consultor responsável pela área de reciclagem e sustentabilidade da consultoria Maxiquim (que mensalmente publica um boletim sobre preços de resinas recicladas). “Nas crises, esse mercado sofre tanto na ponta da demanda quanto na da oferta de matéria-prima, pois a recessão diminui o consumo, e com isso a disponibilidade de recicláveis”, explica.
A queda nos preços das resinas virgens em 2017 também prejudicou os reciclados, que, para Jaroski, somente são competitivos se custarem no máximo 70% dos preços das resinas novas. Acima desse patamar, há espaço somente para reciclados de altíssima qualidade, ou para transformadores que utilizam volumes muito grandes. Atualmente, ele destaca, o preço do PET reciclado equivale a cerca de 70% daquele da resina virgem, enquanto nas poliolefinas esse índice varia entre 70% e 80%, dependendo da qualidade do produto submetido a reciclagem.

Esses índices já foram maiores: em dezembro último, informam os relatórios da Maxiquim, uma resina como o PEAD reciclado branco, proveniente de resíduos industriais, tinha preço quase igual ao do produto virgem (chegava a 92%). “Os preços das resinas virgens vêm subindo, devendo até mesmo permitir que, a partir de março, os próprios recicladores reajustem seus preços”, projeta Jaroski.
José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast, ressalta que em 2014 o Brasil já atingia índices de reciclagem de plástico similares aos da Suíça. Para ajudar a elevar esses indicadores, a Abiplast agora trabalha em um projeto de certificação e concessão de um selo de qualidade para matéria-prima reciclada. “As grandes marcas demandantes de produtos plásticos vêm se comprometendo globalmente com o aumento de conteúdo reciclado em seus produtos”, observa Coelho.
A Resina PET reciclada, especificamente, tem no Brasil seu maior campo de aplicações, ressalta Auri Marçon, diretor-executivo da Abipet. “Desde embarcações até canetas e réguas utilizam PET reciclado, cujo uso cresce também na fabricação de embalagens”, detalha. “Uma aplicação que aqui merece destaque é a utilização de PET reciclado para produzir resina insaturada de poliéster, que reforçada com fibras de vidro torna possível a fabricação de peças para ônibus, caminhões, tratores, piscinas, caixas d’água, mármore sintético”, acrescenta.