Organizado a cada dois anos, o Simpósio Internacional de Injeção de Plásticos, promovido pela organizadora de eventos Específica, trouxe a São Paulo um extenso programa de palestras técnicas que mostraram ao público, em dois dias de programação, a necessidade pelo aperfeiçoamento tecnológico dos processos de transformação de plásticos. Mais do que isso, o evento provou que toda a sociedade precisa ficar atenta às modificações que novos plásticos e novas tecnologias introduzem em nosso cotidiano, como no caso dos nanomateriais e dos plásticos biodegradáveis.
O longo ciclo de palestras foi aberto por Merheg Cachum, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Cachum apresentou estatísticas sobre a indústria de transformação local, alertando para o baixo consumo per capita de resinas no país, na casa de 27,94 kg/habitante em 2009, ao passo que na região do Nafta e no oeste Europeu o consumo já chegou à casa dos 100 kg/habitante. O faturamento do setor atingiu R$ 35,9 bilhões no ano passado, mas, prejudicado pela crise mundial, foi menor que o de 2008, de R$ 40,92 bilhões. No entanto, o presidente-executivo previu condições econômicas mais favoráveis em 2010, e apostou em uma retomada do crescimento do faturamento, sem, entretanto, arriscar números.
O histórico déficit da balança comercial do segmento, que vinha seguindo uma tendência crescente desde 2003, também apresentou uma pequena redução em 2009, de US$ 996 milhões para US$ 918 milhões. Apesar do tímido avanço, o dirigente da Abiplast se mostrou otimista quanto às chances de diminuições mais intensas no déficit comercial nos próximos anos.
Mas, além de melhorar os indicadores econômicos da transformação de plásticos, o Brasil também precisa, com alguma pressa, de mudanças para se adequar às novidades tecnológicas que a indústria do plástico proporciona, como foi possível perceber em outras duas palestras.
O professor doutor Oswaldo Luiz Alves, do Laboratório de Química do Estado Sólido do Instituto de Química da Unicamp, incumbido de discorrer sobre a nanotecnologia, apresentou algumas das vertentes das pesquisas sobre o uso de nanopartículas em resinas poliméricas. Ele expôs alguns casos já bem conhecidos do público, principalmente o mais especializado, como a prata nanoparticulada e suas propriedades bactericidas e de barreira, e as nanoargilas. Aliás, Alves declarou que existem no país muitas reservas do material com qualidade adequada à aplicação em nanotecnologia. O sul do Pará, por exemplo, dispõe de argilas com grau de alvura elevadíssimo, da ordem de 99,99%, bastante adequadas aos usos industriais. “É só passar uma água que dá até para usar em alimentos”, disse, brincando, o professor doutor.
O emprego de plásticos aditivados com nanopartículas, cujas propriedades de barreira a gases e umidade podem ser muito superiores às de plásticos convencionais, abre grandes possibilidades para o “assalto” final dos plásticos ao mercado de cerveja, que exibe a atrativa cifra de 300 milhões de garrafas consumidas por ano, em todo o mundo. O náilon 6 carregado com argila nanoparticulada, como revelou o pesquisador, já mostrou em testes que, graças ao seu maior poder de barreira, eleva o tempo de prateleira da bebida para 26 semanas. “É um alvo tentador para a indústria do plástico”, afirmou Alves.
Os nanocompósitos têm demonstrado potencial para alterar os paradigmas acerca da fluidez dos plásticos, abrindo possibilidades tanto para a produção de peças maiores quanto para um processamento mais econômico em termos de consumo energético. Outras propriedades, como o módulo de flexão, podem igualmente sofrer grande influência quando da adição de nanopartículas. Um campo em que essa característica seria particularmente útil é a produção de catéteres de termoplásticos e elastômeros, pois as partículas elevam a flexibilidade do produto, o que é desejado, sem grandes influências em suas propriedades mais importantes, uma vez que as quantidades adicionadas são bastante pequenas. Alves afirma que teores menores que 3% de nanopartículas podem multiplicar o módulo de flexão por duas vezes.
A maior parte da apresentação do pesquisador da Unicamp, porém, foi direcionada a um segmento menos conhecido da nanotecnologia, o dos nanotubos de carbono. Segundo ele, em pouco menos de vinte anos, a produção mundial de nanotubos passou de alguns quilos para cerca de 1.200 toneladas anuais. E onde todo esse material vai ser usado? Para o pesquisador, a resposta está clara: em conjunto com as resinas poliméricas. “Já há cerca de 10 mil patentes sobre nanotubos de carbono, e quase 25% delas são relacionadas com polímeros”, disse Alves. Nas estimativas do palestrante, em pouco tempo a maior parte das resinas utilizadas na indústria de transformação empregará os nanotubos, no mundo e também no Brasil, e esse fato requererá a atenção dos transformadores, pois a introdução das nanopartículas em polímeros implica mudanças nos processos de moldagem.
Os nanotubos de carbono podem ser fabricados com materiais derivados do grafite, artificialmente produzidos. Entre eles, está o grafeno, uma “folha” com espessura de um átomo de carbono, formada por átomos arranjados em estrutura hexagonal e unidos por ligações do tipo sp2. Com base no grafeno, já foram criadas novas substâncias, como o grafano, semelhante, mas com átomos unidos por ligações sp3, e o grafono, uma espécie de grafeno parcialmente hidrogenado. Essas substâncias possuem propriedades distintas: enquanto o grafeno e o grafano são, em intensidades diferentes, semicondutores de eletricidade, os grafonos são semicondutores magnéticos, e essas propriedades podem ser estendidas aos plásticos pela adição dos nanomateriais.